EVANGELHO DE JOÃO
O símbolo de João é a águia, que “voa mais alto para ver
melhor”. João não se limita a leis e
fatos. É um Evangelho de uma grande espiritualidade, o que
não significa que seja um evangelho
“espiritualista” ou desencarnado. Ao contrário, ele é também
muito histórico. Foi escrito no chão da
vida de comunidades que buscavam viver a proposta de Jesus.
Por isso, o Quarto Evangelho é fruto
da comunidade, se existe vida existe uma comunidade, onde
esta vida procura florescer e dar frutos.
Evangelho de João, porque aparece muitas vezes, e porque
João afirma que Jesus amou e “amou-os
até o fim” (Jo 13,1), até o ponto de dar a vida pelos seus.
A “palavra chave” do
Evangelho de João é VIDA. E, por isso, a frase mais importante está em
João 10,10: “Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em
abundância” (este é o resumo de
todo o Evangelho).
ESQUEMA DESCENDENTE E ASCENDENTE DO PRÓLOGO (Jo 1,1-18)
Verbo = Deus (1-2) Verbo = Deus (18)
Criação (3) Nova
Criação (17)
Humanidade (4-5) Dom
(16)
Batista (6-8) Batista
(15)
Encarnação (9)
Encarnação (13-14)
Não receberam (9-11)
Receberam (12)
1. João e os Sinóticos:
O Evangelho de João é
diferente dos outros três (Sinóticos). João dá uma interpretação mais
profunda da vida de Jesus. Exemplo: no milagre do cego de
nascença, quando Jesus lhe devolveu a
vista (9,1-41). João se pergunta: por que Jesus fez isso? A
resposta é: Jesus queria mostrar que veio
trazer a luz para a Humanidade. Ele é a luz do mundo. Foi o
mesmo Jesus quem falou e provou isso.
O mesmo sucedeu com a ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-54).
João quer mostrar que Jesus veio para
trazer a vida.
João nos ensina como
devemos ler os outros três Evangelhos. Não devemos ficar só na
superfície das coisas, mas penetrar dentro delas para
compreender aquilo que a mensagem quer
dizer: ir dentro dos fatos, interpretá-los...
O símbolo de João é a
águia. A águia voa alto, para ver melhor, como diz o provérbio “águas
paradas são fundas”. Por exemplo, a descendência de Jesus
varia e vai mais distante quanto mais
tarde se escreve:
- Marcos: Jesus
aparece no Batismo e anunciando o Reino (Mc 1,9.15);
- Mateus: Jesus é
descendente de Abraão (Mt 1,1ss);
- Lucas: Jesus vem de
Adão (Lc 3,23-38);
- João: Jesus está no
princípio da vida (Jo 1,1).
Este “no princípio”
que encontramos no Evangelho de João, é o mesmo da primeira frase da
Bíblia (Gn 1,1). Jesus vêm inaugurar a Nova Criação e Ele
pode fazer isso, pois estava presente na
primeira Criação.
No Evangelho de João,
a primeira semana é muito importante. O Evangelho inicia com uma
semana simbólica, onde temos o testemunho de João Batista e
a adesão dos primeiros discípulos e a
semana tem seu ponto alto no sexto dia (o casamento em Caná
da Galiléia).
Algumas diferenças
entre João e os Sinóticos: - João não
usa a expressão “Reino de Deus (ou dos Céus)”. Somente duas vezes e sempre no
sentido escatológico. João prefere usar a palavra “Vida”
como símbolo do projeto de Jesus.
- João usa a palavra
“Sinais” e não “Milagres”; “comparações” e não “parábolas”.
- A purificação do
templo em João aparece no começo do Evangelho (Jo 2,13-22) e não no
fim como nos Evangelhos Sinóticos (Mt 21,12-13; Mc
11,11.15-17; Lc 19,45-46).
- Ao contrário dos
Evangelhos Sinóticos, em João os Samaritanos são bem vistos.
- “Judeus”
representam o judaísmo oficial; “mundo” representa os romanos. Cuidado com
esses dois grupos. “Mundo” pode representar também aqueles
que não crêem em Jesus.
2. A Comunidade do
Evangelho de João:
A comunidade onde
João vive e para quem escreve o Evangelho, é uma comunidade que está
levando a sério a vida cristã e a proposta de Jesus. É uma
comunidade que está sendo perseguida
(época do Apocalipse). Existe o conflito com os judeus
(nesta época o cristianismo já foi expulso
das sinagogas).
É uma comunidade que
vive o amor. Comunidade de irmãos e amigos. “Eu vos chamo
amigos” (Jo 15,15). A relação é de igualdade. Não é a relação
de “Senhor x servo”; mas pessoa x
Deus. Não é pai x filho, mas um Deus paternal. Amigo x
Amigo.
Não há discriminação
na comunidade. Existe a assembléia, onde todos devem ser iguais.
Exemplo disso é o texto de Jo 15. Jesus é a videira e todos
são os ramos. Os ramos são iguais.
A comunidade deve ser
“Testemunha”. Quem escreve é o “Discípulo Amado” que deu
testemunho dessas coisas e que as escreveu. Mas a comunidade
também deve confirmar: “E nós
sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” (Jo 21,24).
3. A “Hora de Jesus”:
João nos conduz à
“hora” de Jesus em duas etapas. Na primeira, ele narra os “sinais” que
Jesus fazia e que demonstravam, para quem estava disposto a
crer, que Jesus é o Enviado do Pai
(cap. 1-12). “Minha hora ainda não chegou” (2,4)...
Na segunda etapa, ele
descreve a “hora” de Jesus, quando Jesus mostra a glória de Deus, o
rosto do Pai, indo até o fim da sua missão (cap. 13-20).
“Pai, é chegada a hora” (16,2); “Vem a
hora, e já chegou” (16,32). A palavra “hora” aparece 26 vezes
neste Evangelho.
4. Os contrastes:
- do lado de Deus -
do lado oposto / do outro lado
- Deus - mundo
(romanos ou o judaísmo)
- “de cima”; “do
alto” - “de baixo”; “daqui”
- celeste / eterno -
terreno / perecível
- espírito - carne
- luz - trevas
- vida - morte
- verdade /
fidelidade - mentira / incredulidade
- liberdade -
escravidão
5. Três figuras
importantes em João
1) Jo 3,1-21 -
Nicodemos: símbolo do novo povo de Deus; / ou dos que tem medo
(noite);
2) Jo 9,1-41 - O Cego
de Nascença: simboliza a comunidade que não tomou consciência
de sua situação de
cegueira. Mostra o conflito com aqueles que mantém o
povo na “escuridão”;
3) Jo 11,1-57 - A
ressurreição de Lázaro: A vida plena da ressurreição já está presente
naqueles que
pertencem à comunidade de Jesus. 6. As Festas (vazias) dos judeus e a Festa da
Vida:
2,13 - Páscoa
5,1 - Não definida
6,4 - Páscoa
7,2 - Festa das
Tendas
10,22 - Dedicação
11,55 - Páscoa
20 - Ressurreição. É
verdadeira festa. As demais são “frias” e já sem sentido.
7. Os 7 sinais:
Existe Jesus traz
2,1-11 - Bodas de
Caná falta de “vinho” - Amor
4,46-54 - Cura do
filho do funcionário doença - Saúde
5,1-18 - Cura do
paralítico abandono / exclusão - Solidariedade
6,1-15 - Multiplicação
dos pães fome - Partilha
6,16-21 - Jesus
caminha sobre as águas medo - Confiança
9,1-41 - Cura do cego
cegueira - Luz / Visão
11,1-44 -
Ressurreição de Lázaro morte - Vida
8. O Discípulo Amado:
13,23-26 - Na última
Ceia
19,26-27 - Aos pés
das cruz
20,2-10 - Na
Ressurreição
21,7.20.24 - No mar
da Galiléia depois da Ressurreição
1,35; 18,15 -
Discípulo anônimo
Mas, quem é este
“Discípulo Amado”? Várias hipóteses são propostas: o Apóstolo João, o
autor do Evangelho, Lázaro, Maria Madalena, a comunidade...
9. As mulheres em João:
O papel desempenhado
pelas Mulheres em João é muito especial (Jo 2,1-12; 4,1-42; 11,1-44;
12,1-11; 16,20-22; 19,25,27; 20,11-18). Isso leva a crer que
as mulheres tinham uma função muito
importante na comunidade e também nas liturgias. Maria
aparece duas vezes somente neste
Evangelho. No começo (Jo 2,1) e aos pés da cruz (Jo 19,25).
Jo 4,1-1-42: A
Samaritana é levada a perceber que Jesus é o Cristo. Os samaritanos crêem por
causa da mulher e em sua oração. A samaritana se torna
missionária (4,39).
Jo 11,5 nos diz que
Jesus amava Marta, Maria e Lázaro. Em Jo 20,16, Maria Madalena
reconhece Jesus quando a chama pelo nome. E em João são as
mulheres que vão primeiro ao
sepulcro ainda de madrugada (Jo 20,1). Maria Madalena vê o
próprio Jesus e vai anunciar aos
discípulos (20,18). Torna-se “testemunha” da ressurreição.
10. Jesus é o “Novo
Moisés”
É interessante ver
como no Evangelho a figura de Jesus é apresentada como sendo um novo
Moisés. Já segundo Dt 18,15.18-19 havia a promessa que Deus
enviaria um Profeta maior que
Moisés. Em Jesus se cumpre esta promessa. Ele é o profeta
por excelência (Jo 6,14; 7,40.52). Da
mesma forma como Moisés trouxe os 10 Mandamentos, Jesus traz
o Mandamento novo: o Amor e
pede que nos amemos uns aos outros como ele nos amou (Jo
13,34-35; 15,12-17). A Moisés Deus
havia revelado seu Nome: “Eu Sou” (Ex 3,14). Jesus assume
este Nome (veja abaixo) e revela ainda
o rosto divino de Deus que é também Pai (Jo 17,1.11.24-25). Por
isso, diante de Deus nós devemos
agir e obedecer, não como escravos, mas como amigos (Jo
15,15; 8,34-36). Assim como Deus agiu
através de Moisés, Jesus também realiza os sinais para
mostrar que sua obra é de Deus. 11. “EU
SOU”
Jesus, que também era hebreu, utilizou para si o mesmo verbo
com o qual Deus se manifestou em Ex
3,13-14. É importante analisar esta expressão no Evangelho
de João. O evangelista conhece a fundo o AT,
conhece a cultura e a religião hebraica. Por isso, neste
Evangelho, é interessante ver como o verbo “ser” é
muito freqüente. E nos interessa muito que em João por três
vezes1
(número da unidade)
Jesus utiliza para si
a expressão “EU SOU” sem que tenha algum complemento (Jo
8,24.28; 8,58; 13,19)2
.
Outra constatação
importante é que quando Jesus usa o complemento ao verbo, o faz por sete vezes.
Ou seja por sete vezes (o número perfeito) Jesus diz o que
Ele é!
1) Eu sou o Pão da
Vida (6,36.41.48.51);
2) Eu sou a Luz do
mundo (8,12; 9,5);
3) Eu sou a Porta (Jo
10,7.9.11.14);
4) Eu sou o Bom
Pastor (Jo 10,11.14);
5) Eu sou a
Ressurreição e a Vida (Jo 11,25);
6) Eu sou o Caminho,
a Verdade e a Vida (Jo 14,6);
7) Eu sou a Videira
Verdadeira (15,1.5).
12. Outras
“Palavras-chaves” em João:
a) O “Testemunho”,
vem do grego: marturi,a. Importante ver quem é que dá Testemunho
e de quem é que dá “Testemunho”.
b) No Evangelho de
João existe uma “procura”, um “encontrar”. Sublinhe estas palavras.
c) O verbo “entregar”
é significativo: quem entrega o que, quem...
d) O “Julgamento” é
importante em João.
e) Os verbos “crer e
acreditar” são muito freqüentes e muito bem empregados.
f) A “glória” de
Jesus e todas as expressões do verbo “glorificar”.
g) O Verbo “amar” e o
substantivo “amor” aparecem tantas vezes!
h) Verbos:
“conhecer”, “ver”, “permanecer”...
i) A “vida eterna”.
13. Divisão do
Evangelho:
Prólogo: 1,1-18
I PARTE: O Livro dos
Sinais: 1,19–12,50
II PARTE: O Grande
Sinal: 13,1–20,29
Epílogos: 20,30–21,25
14. O “Mundo”: a
palavra “mundo” no Evangelho de João tem um sentido especial. Significa
quem é contra Jesus. Podem ser os chefes dos judeus, os
romanos ou aqueles que não crêem. Em
geral é negativa (6 vezes em Jo 15,18-19; 18 vezes em Jo
17).
15. Autor:
É muito difícil
encontrar uma afirmação segura sobre quem seria o autor deste Evangelho. As
tradições mais antigas e Irineu de Lião afirmam ser o
Apóstolo João, daí também provém o nome.
Mas durante a história encontramos mais de vinte hipóteses,
inclusive Lázaro, Maria Madalena...
Outra possibilidade seria que o Evangelho tenha sido escrito
em várias etapas e depois alguém
tenha feito a redação final. Para o povo das nossas
comunidades o mais importante é o texto do
Evangelho, que é tão bonito e profundo, e saber que foi
escrito por um “discípulo amado de Jesus”!
Nunca vamos saber ao certo quem foi seu autor.
1
Consideramos Jo 8,24
e depois 8,28 uma única vez, pois é uma repetição dentro do mesmo contexto.
2
No Evangelho de João
aparece ainda várias vezes a expressão “Sou eu” (Jo 4,26; 6,20; 7,28; 8,16;
9,9; etc), mas não no sentido forte como nesses três casos.
ATUALIZAÇÃO:
JESUS RESSUSCITOU! Foi a grande e boa notícia da manhã do
primeiro dia da
semana! Foi levando esta boa notícia que a Igreja se
espalhou pelo mundo
afora. Como continuarmos a transmitir esta boa notícia hoje?
- Como Maria Madalena: que não teve medo e saiu de
madrugada;
- Como Pedro e o discípulo amado que correram. Viram e
acreditaram;
- “Voltando-se”, olhar para Jesus e não para o túmulo
vazio...
- Escutar a voz que nos chama pelo nome;
- Dar testemunho e anunciar a boa notícia;
- Ficar na comunidade, pois fora dela, podemos nos enganar
como Tomé;
- Afirmar como Tomé que Jesus é: “Meu Senhor e Meu Deus!”
- Nas “noites escuras e sem peixes” da nossa vida, devemos
ter sempre a
confiança que Ele está de pé lá na beira da praia;
- Podemos fazer a nossa força e ajudar a conduzir esta “rede
cheia de peixes”
que é a Igreja de Jesus;
- Ser contra tantas divisões que “rompem a rede”. Hoje com
outras Igrejas
devemos trabalhar pelo ecumenismo e pela unidade dos
cristãos!
- Fazer a nossa parte e apascentar as “ovelhas” de Jesus;
- Dar testemunho de Jesus Cristo Ressuscitado e vivo no meio
de nós!
- A Bíblia permanece como o “livro aberto”. Vamos ler e conhecer
a mensagem
de Deus e colocá-la em prática... - Há ainda muitos outros
sinais... Devemos abrir os olhos e ver em todos os
lugares os “sinais” que hoje nos levam à Vida Eterna que
Jesus tanto anunciou!
ORAÇÃO FINAL:
- Concluímos o Evangelho de João Orando um Pai Nosso, sinal
do amor que
temos por Jesus e que nos ensinou a chamar Deus de Pai...
Agradecidos pelo
pão “nosso” de cada dia e pelo perdão dos pecados...

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